domingo, 16 de agosto de 2009

Os do colégio


Não é para menos. Dezesseis anos no mesmo colégio guardam figuras impossíveis de ser esquecidas. Hoje, durante encontro do 3ºB -- que reuniu uma galera que não se via há quase seis anos --, as lembranças vieram à tona. Amigos, professores, seguranças, disciplinários, provas, colas, churrascos, namoros, brincadeiras e vários casos.
Por isso, em homenagem a essa turma ilustre, registro aqui alguns rostos que serão lembrados para sempre, certamente.
Quem foi da época do Santo Agostinho, principalmente, sabe quem foram:

Seu Brás: o porteiro mais gente boa e carismático que já passou pelo colégio. Alguém discorda? Piadinhas e dentadura para fora. Hilário! Não sei quanto tempo ele ficou lá. Mas sei que marcou a vida de muitos, com certeza. (Alguém tem notícias dele?)

Dona Geralda: batia o sininho para sinalizar o início ou término do recreio e levava cafezinho, pães de queijo e biscoitinhos da cozinha para a sala dos professores. Direto e reto a parávamos no corredor para "roubar" uns comes. Mais tarde, Neide e Fátima passaram a bater o sininho, certo? Ou já tinha sinal nessa época?

Flávio, do chup-chup: depois da aula, chup-chup e pirulito que deixava a língua azul eram sagrados. Além de skittles e skate (bala em forma de tablete fino), ele vendia aquele pirulito com um pozinho que explodia na boca. Lembram?
Flávio era a companhia de quem ficava esperando a mãe ou pai até mais tarde na porta do colégio. Ficou por lá até proibirem a venda de produtos irregulares nas redondezas, não foi? Galera entristeceu.

Vampeta: segurança gente finíssima! Bigodinho e sorriso no rosto. Um dia a Laura, ainda com 16 anos, foi com a Blazer do pai para a aula! Não conseguiu estacionar. Quem deu uma mãozinha? Vampeta (sim, ele parecia um pouco com o jogador do Corinthians).

Professores

Ricardo, de geografia (8ª série?): excelente. Não me lembro de alguém que não goste dele. Uma graça. Quando o assunto era importante, escrevia LOOK no quadro, com os Os em forma de olhos.

Rose, de matemática (7ª série): ótima. Contava que sempre lia um pouco antes de dormir. Tem três filhos, que na época eram muito pequenininhos. Todas as meninas queriam brincar com eles.
Durante uma aula, ela contou um caso que fez todo mundo rir. A empregada (não sei se dela ou de alguém) colocou o nome da filha de Madeinusa. Motivo? Achou bonita a palavra que aparecia atrás do rádio-relógio que limpava!).

Tia Renata (2ª e 3ª séries): essa foi a melhor de todos os tempos. Não sei quem da foto foi aluno dela. Muitos que não foram hoje lembrariam fácil: Nathália Daniel, Marcela e Lídia, por exemplo. Ela era ídola de todas as meninas. Todo mundo queria ter o cabelo curtinho que nem o dela, passar batom vermelho e aprender a levantar apenas uma sobrancelha (aprendi por causa dela). Ensinava muito bem e todos a amavam. Fizemos abaixo assinado para ele poder ser nossa professora por mais um ano. A mais especial de todos os tempos do ensino básico. Ela aindá dá aula lá?
Lembro que essa era a época do "Carrossel".

Um pouco mais à frente...

Mateus, de matemática (1ºC): muito bom. Era um dos únicos que conseguia calar o 1ºC, a sala mais agitada e entrosada daquele ano. Quadro impecável, letrinha perfeita. Namorava a professora de inglês na época.

Jorge, de español (2ºE): A mí me gustan las hamburguesas, con papas fritas y mayonesa, con mucho queso y mucho jamón, quien inventó las hamburguesas es un campeón. Passou essa musiquinha pra gente logo nas primeiras aulas. Ficou na cabeça. Hilário. Difícil também esquecer seu "olor" y dientes y uñas "limpios".

Dias, de química (2ºE e 3ºB?): "Mestre", "uala", "uhuhuhu", catupiry... Era o que mais dava corda para as besteiras da turma. Aderiu à mãozinha na testa para indicar necessidades fisiológicas (rs!). Quando não queria papo com a galera, o clima ficava tenso.

Sônia Helena: perigoso comentar. Pode dar processo. rs!
Lembram desse caso?

Marco Antônio, de biologia (3ºB): ensinou que tsé-tsé era o mosquitinho que tinha picado a galera que dormia durante as aulas.

Silvânio, de geografia (3ºB): melhor não comentar! rs! Gente boa.

Dona Marta, (3ºB): Vai ficar aí, deitado em berço esplêndido? A situação está periclitante. Mito do colégio. Só quem foi aluno sabe do que estou falando. Peça raríssima. Difícil descrever. E a foto que aquela vez colocaram debaixo da chamada? Ela ainda guardou. Rs!

E muitos outros...! Alguém lembra de mais algum professor notável?

No próximo post, as figuras serão vocês, da foto, e outros colegas que não apareceram. Me ajudem a lembrar dos casos!

Bons tempos, hein?! Que não voltam nunca mais.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fabrício Falconi Costa: Da genética a um mundo melhor


O que você quer ser quando crescer? Astronauta. Quero descobrir o espaço, pisar a lua, pegar carona num foguete da Nasa e ver a Terra lá de cima. Esse foi o seu pensamento até os 11 anos de idade.

A idéia só mudou quando ele estava na sexta série do primeiro grau —época em que, durante as aulas de biologia, descobriu o mundo microscópico. Em meio às matérias de matemática, história, português, geografia e física, nada chamava tanto a atenção quanto a biologia [bio (vida) + logus (estudo) = estudo da vida]. E foi assim até o terceiro ano do segundo grau, na metade da década de 90. Naquele tempo, o Projeto Genoma Humano, apesar de estar apenas começando, já despertava o interesse de Fabrício Falconi Costa—o garoto de 17 anos e uma firme decisão: estudar o mundo da genética.

Desde o início, tudo conspirou a seu favor. "Além da professora de biologia, que teve importância fundamental no meu aprendizado, os assuntos relacionados à genética me impressionavam." No entanto, como nenhuma universidade do país oferecia um curso que atendesse a seus interesses, ele escolheu Ciências Biológicas na UFMG e —sabiamente— se especializou em Genética e Bioquímica no laboratório do Dr. Sérgio D. Pena.

Devido ao bom desempenho, quando terminou o curso, veio o convite inusitado: fazer um doutorado no Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer. "Não pensei duas vezes e fui morar em São Paulo." Aos 26, já tinha um Ph.D. em pesquisas sobre o câncer e era fonte para matérias de veículos de circulação nacional sobre a doença.

De lá para cá, a carreira só decolou. De São Paulo foi para Boston —onde fez treinamento de pós doutoramento em instituição ligada à Harvard— e de Boston foi a Chicago, para dar início ao estudo do que hoje parece ser a menina dos olhos da ciência: o genoma (soma de genes que nos identifica, manual de instruções, aquilo que explica por que aquele filho tem nariz grande, é baixinho ou alto, tem olhos azuis ou castanhos, pele clara ou escura etc.).

O gene
Na linguagem científica, Fabrício se dedica a uma área conhecida como genômica, que trata do estudo das propriedade globais do genoma, e não apenas de genes específicos. O objetivo é observar o sequeciamento dos genes e entender como eles são regulados e expressos pelas células.

E o que nós temos a ver com isso? Tudo. "O genoma é o código da vida. Problemas em sua sequência (regido pelas letras A, C, G e T) podem ser sinônimo de doença ou propensão a desenvolvê-la." Não é à toa que pesquisadores de todos os cantos do planeta se fascinam com esse novo universo.

O que dizer se, dez anos antes de aparecer, uma avaliação detalhada dos seus genes indicasse que você tem 100% de propensão de desenvolver câncer? Se, duas décadas antes (antes de casar, construir família e ter filhos), descobrissem que você tem uma doença que prejudica os osso, por exemplo, e que, se não cuidada, pode ser transmitida ao bebê?

Futurologia desnecessária? Não, obviamente. "Em algum tempo, vamos poder sequenciar o genoma de todas as pessoas por um valor baixo e identificar defeitos genéticos antes das doenças aparecerem. Isso também significa desenvolvimento de novas tecnologias e evolução da medicina personalizada."

Personalizada? "Seria o desenvolvimento de medicamentos específicos para cada pessoa para evitar efeitos colaterais."Os efeitos colaterais de remédios são causados, em geral, por serem utilizados por massas de pessoas. E, como cada indivíduo tem um background genético diferente do outro individuo, a metabolização e o efeito das drogas é diferente em cada um."

Ou seja, com genes devidamente identificados, haverá remédios feitos especialmente para você, mim, sua mãe, seu primo e amigo. Não mais dores de cabeça, náusea ou irritabilidade ao ingerir aquele antibiótico ou anticoncepcional. Nada.

O câncer
Atualmente, Fabrício e sua equipe se debruçam sobre as células normais e cancerígenas para entender como os genes se comportam em diferentes situações (sob a interferência de alguns medicamentos, por exemplo). Assunto difícil para alguns, tarefa de honra para ele.

Como se sente ao estudar uma doença para a qual ainda não encontraram a cura? "É muito desafiador, pois temos que estudar muito para entender o funcionamento normal das células e, depois, tentar compreender o funcionamento das células tumorais."

Realista, Fabrício faz a sua análise: "Acredito que nunca haverá cura para essa doença. Mas, possivelmente, conseguiremos desenvolver drogas que vão, no futuro, controlá-la e torná-la crônica (assim como a diabetes)."

Os "defeitos genéticos" são variados e a manifestação das doenças também. Pesquisas na área genômica englobam fibrose cística, spina bifida e outras doenças de desenvolvimento neural. Garantir a cura total é complicado. Por enquanto, a certeza, feliz, é uma só: "O impacto dos estudos da área Genômica para a sociedade são imensuráveis. Provavelmente, as pesquisas associadas a genomas representarão para a Medicina e outras áreas, em breve, o que a chegada do homem à Lua representou", afirma Fabrício.

Pingue-pongue

Por que queria ser cientista?
Quando pequeno, queria ser um astronauta, principalmente pelo fato de ser muito curioso. Além disso, a NASA, nos EUA, estava em alta com o programa espacial e os onibus espaciais. Nessa época, eu montava naves espaciais e sonhava em conhecer o espaço e a lua. Com o tempo, fui perdendo o interesse pelo espaço e me interessei pelo mundo do muito, muito pequeno: a biologia molecular. Ainda estava curioso para saber o que estava dentro das células, e o Projeto Genoma Humano me chamou a atenção. Foi assim que decidi me ingressar na genética. Mas ainda tenho acompanhado o programa espacial da NASA aqui nos EUA, apesar de estar em decadência nos dias de hoje.

Qual é a maior vantagem que você vê no seu trabalho?
A maior vantagem no trabalho que realizo aqui é a constante atualização e aprendizado. A área da ciência é muito dinâmica e tenho que estar sempre ligado às novas tecnologias e ler muitos artigos. Acredito que uma das características mais importantes de ser um cientista é a constante atualização.

Qual foi o maior reconhecimento profissional que você já recebeu?
É dificil medir o reconhecimento profissional, mas já fui entrevistado por revistas do Brasil, como ISTOE —que fez uma reportagem sobre câncer quando eu finalizava meu doutorado— e dos Estados Unidos, como THE ECONOMIST e NY TIMES. Também consegui publicar varios artigos em revistas de bom impacto no meio científico. Um desses foi considerado o artigo com mais downloads, em um ano, de uma longa lista. Essas são importantes conquistas em um mundo tão competitivo, principalmente na área da ciência.

Por que se fala tanto em ética no seu campo de atuação?
A ética é um fator muito importante nos dias de hoje, principalmente agora que vários genomas estão sendo sequenciados e várias empresas oferecem serviços de testes genéticos. Os testes podem revelar defeitos nos genes que aumentam a probabilidade de algumas pessoas virem a desenvolver certas doenças. A ética é importante quando famílias são testadas para defeitos genéticos. O principal objetivo é evitar a discriminação genética por outras pessoas e até empregadores que possam ter acesso a essa informação. (Para saber mais sobre os tipos de testes genéticos disponíveis nos dias de hoje, acesse www.genomicenterprise.com).

O que acha da ciência aqui e da ciência aí nos EUA?
A ciência no Brasil já evoluiu muito, mas existem vários problemas e buracos que ainda levarão anos para melhorar. O Brasil melhorou muito o número e o impacto das publicações cientificas, mas os EUA ainda é o líder mundial em pesquisas biológicas e médicas. Portanto, acredito que ainda é melhor negócio estar aqui nos EUA.

Qual é a vantagem de trabalhar aí? Consideraria a hipótese de viver aqui?
A maior vantagem de trabalhar aqui nos EUA é que as coisas são rápidas e funcionam. Além disso, mesmo com crise econômica, o dinheiro para pesquisa aqui nos EUA ainda é alto —enquanto que no Brasil o financiamento de pesquisa é escasso e concentrado em regiões como São Paulo. Ainda considero a hipótese de voltar ao Brasil em um futuro próximo, se tiver uma proposta de peso. Mas, por enquanto, vou ficando por aqui…

Do que sente falta?
Sinto falta do jeitinho brasileiro para resolver problemas, do verão brasileiro e, principalmente, da família no Brasil. Mas, para aliviar a saudade, vou ao Brasil uma vez por ano.

Qual patente desejaria um dia possuir?
Desejaria possuir uma patente de uma descoberta ou invenção que mudasse os paradigmas científicos e que me desse muito dinheiro.

O que gosta de ler?
Gosto de ler livros de áreas diversas, mas principalmente biografias e ficção científica. No momento estou lendo o livro do atual presidente dos Estados Unidos Barack Obama – “Dreams from my father”.

Qual é seu hobby?
Nao tenho muito tempo para hobbies, mas gosto de navegar pela internet e estar sempre antenado com o novo. Aliás, meu hobby é meu website e minha empresa Genomic Enterprise. Posso passar horas organizando o site e adicionando mais informações a ele.


domingo, 10 de maio de 2009

A mais notável


Ela não entende o porquê de um tênis no meio do chão do quarto. Não entende por que não passo uma aguinha no copo depois que uso. Não entende, principalmente, o gosto que tenho em usar alguns de seus pertences —mesmo tendo os mesmos (de cor diferente) no guarda-roupa.

Ela é linda, elegante e educada. Brava, exigente, perfeccionista e crítica. É daquelas que não precisa nem de xingar. Lança o olhar e.... Já sei. Relaxa. Já vou tirar a toalha de cima da cama. rs!

Deseja tudo de bom e o melhor a todos. Reconhece esforços. Admira muito, mas não mima. E seu "muito bem" já vale por todos os aplausos do mundo.

De inteligência emocional admirável e simples filosofia de vida: "sempre há o lado bom da coisa ruim; nada contece por acaso; mentalize o positivo; respire fundo....; conserte a postura; faça yoga; leve uma jaquetinha. Hoje vai fazer frio."

Há quase 28 anos desenvolve um papel difícil. Tarefa árdua, desgastante, porém louvável e gratificante (acho, rs!). Deve ter graduação em Paciência, mestrado em Separar Briguinhas de Criança e PHD em Administração de Conflitos. (Como demos/damos trabalho!)

Por isso, e por ser quem simplesmente é, merece o melhor do mundo. Não há dúvidas. Somos partes diferentes, mas, ao mesmo tempo, um todo.
E tudo começou no cordão umbilical. Sem data para acabar.

Apenas uma para comemorar (simbolicamente): o segundo domingo de maio. Porque, para mim, todo dia é Dia das Mães!

Foto: Pedro Olivença (olhares.com)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Filhos do massacre de Ruanda




Em 1994, enquanto o Brasil gritava “el, el, el, vai que é sua Tafarel”, um país da África, do qual pouco se fala hoje, chorava a morte de cerca de 1 milhão de pessoas. Naquela época, o mundo se voltava para os gols da Copa do Mundo e Ruanda, entre facões e sangue, travava um dos conflitos civis mais sangrentos da história humana.


Em abril daquele ano, os chamados Tutsis e Hutus iniciaram uma guerra “aberta” que durou cem dias. Quem viu o filme Hotel Ruanda, sabe: corpos espalhados pelo chão, medo nos olhos e uma certeza —a de que “eles não se importam com vocês, africanos”. Essa era, ao menos, a conclusão do general das Nações Unidas (um dos personagens do filme), que em uma cena conta a Paul, gerente do Hotel Mille Colines, que os belgas iriam ao local apenas para levar todos os estrangeiros (brancos) de volta à Europa —deixando milhares de refugiados (negros, africanos) para trás, à mercê da violência.


Curioso. Eles mesmos criaram os motivos para a indisposição entre as etnias e, na hora que a luta emerge, não conseguem (ou não querem) lidar com o “ímpeto violento do ruandês” —como devem ter justificado naquele tempo. Ocorreu que, no processo de colonização, a Bélgica ignorou a realidade do país —de maioria étnica hutu— e concedeu favores à minoria tutsi. Obviamente, desde 1962, ano da independência do país, uma guerra de poderes se instalou, vindo a eclodir em 1994. (Graças às decisões belgas de outrora!)


É um exemplo de colono cara de pau (como muitos outros). Motivo para um estudo profundo que remete à colonização de todos os países da África. Mas não importante o suficiente para ganhar a credencial de figura notável deste blog. Acho que entre belgas, assassinos, tutsis, hutus e o gerente do hotel que abrigou pouco mais de mil refugiados, o título não poderia ir para outro grupo que não as CRIANÇAS —hoje jovens entrando na fase adulta.


Atualmente, entre vários números que a internet aponta, há uma média de 290 mil pessoas órfãs, que tiveram os pais mortos no massacre. Muitas viram de perto extremistas hutus, sem piedade, utilizarem facões para o assassinato —motivo pelo qual, no filme, Paul diz a sua mulher algo parecido com: “Querida, caso eles invadam o hotel, traga os meninos aqui para o último andar, segure as mãos deles e pule. Porque morrer daquele jeito não é digno”.


Dignidade para continuar a vida é tudo que os órfãos daquela época devem buscar hoje. Superar o trauma não deve, definitivamente, ser fácil. Apesar de agora se evitar o uso das palavras tutsi e hutu (é considerado crime na Ruanda o empregos dessas expressões de forma ofensiva), a ferida ainda está aberta, com certeza. Afinal, são quinze anos sem carinho de mãe e pai.


Para quem tinha, por exemplo, três anos de idade na época, é praticamente uma vida toda sem identidade —e cujo referencial passa a ser o massacre. Quem são seus pais? Não sei. Eu não os conheci. Eles morreram naquele genocídio de 1994. Naquele conflito que ocorreu em nome de não sei o quê.


E agora, quando eles começarem a construir suas próprias famílias, penso como o medo não deve rondar os corações. Qual filho merecerá crescer como seus pais? Quem não achará fundamental e crucial ter o apoio familiar na vida? A esperança desse povo deve ser pura e simples: viver e construir famílias em paz. Sem faca, sem sangue.



Em entrevista ao jornal O Globo (12 de abril), Márcio Gagliato, que desenvolve trabalho em áreas de conflito e miséria da África pela ONG Care, afirma: “A presença do trauma do genocídio é o principal problema do país, maior inclusive que a pobreza. A grande questão é que ele não está sendo trabalhado. Tratar esse trauma coletivo devia ser a prioridade número um, e não transformá-lo num tabu. Quando reprimido, o trauma volta como forma de sintoma.”

“A primeira semana de abril é muito difícil para todos eles, justamente porque é quando as feridas do passado voltam a ficar expostas. O número de pessoas que ficam doentes nessa época é absurdo.”


“Lembrar o genocídio é melhor que simplesmente esquecê-lo. As pessoas precisam manter vivo na memória o que aconteceu neste país para que isso nunca mais se repita”, Edwin Musoni, jornalista ruandês.


Portanto, aí relembramos. Que o jovem ruandês, filho do genocídio de 94, consiga superar o trauma e promover a paz no país. E, claro, dar a seus filhos o carinho paterno que não pôde ter.


*fotografia: Ana Rita Carvalho - http://br.olhares.com/


quarta-feira, 1 de abril de 2009

Anthony: o “free thinker”

Ele não entendia o que falavam pelo alto-falante. Claro. No meio daquela multidão, naquela sala de embarque pequena, calorenta e barulhenta, era difícil para qualquer um entender o que acontecia. “Você sabe a que horas sai o avião?”, ele me perguntou, deixando escapar um sotaque meio indecifrável. “Não escutei direito... Tá complicado, né? De onde você é?”, falei lentamente. “New York”, ele respondeu. Logo imaginei: coitado! Acabou de pisar no Brasil e já deve estar indignado com o serviço das nossas companhias aéreas e de saco cheio de Guarulhos. Mas não... Anthony já conhecia os jeitinhos brasileiros —o bom e o ruim.

Aliás, mais que conhecedor, pode-se dizer até que ele é praticante do lado bom do jeitinho. Em apenas alguns minutos, ele conversou sobre ideologias e se abriu como um americano dificilmente se abriria para estranhos. A explicação: Anthony tem alguns parentes em Belo Horizonte, é fã do Brasil, sociável como os brasileiros e tem ideais pra lá de curiosos.


O estilo meio hippie não denuncia por completo, mas já indica que Anthony é diferente. Veganismo é um dos princípios que ele segue. É uma espécie de vegetarianismo mais rígido. Ele não come ou utiliza qualquer produto que seja de origem animal, como carne, leite e derivados, peles, couro etc.; e rejeita qualquer produto/ação que tenha causado sofrimento desnecessário a seres sencientes (animais ou não-humanos). “Nós acreditamos que os animais são nossos irmãos, que são seres espirituais em forma corpórea assim como nós. Eles têm o direito a sentir o sol no rosto, viver no habitat natural e encontrar um parceiro”.


Druidismo e Paganismo são outras ideias que Anthony defende. “É nossa tarefa aprender tudo o que podemos sobre o maravilhoso mundo da natureza. Protegê-lo é nossa missão. E amar e respeitar todas as formas não humanas de vida é o ponto principal da filosofia druidista, que devia ser refletido no modo de viver de todos”, diz.


Pode até parecer meio “viagem” ou soar meio exótico, mas, ao que tudo indica, ele leva muito a sério o assunto. No orkut, quase todas as suas comunidades são relacionadas à proteção da natureza e dos animais: “Eu amo todos os animais”, “Tree lovers”, “Desenvolvimento Sustentável”, “Boicoite ao circo com animais”, “Veganismo” etc.


Vestígios de preconceito, segundo ele, existem sim, principalmente pelo fato de ser veganista. Mas isso não representa empecilho. Apesar de alguns familiares não entenderem a essência de seus pensamentos, a mãe compreende e o irmão, como ele mesmo diz, é um espírito livre como ele, “senão não sei como íamos lidar um com o outro, ainda mais compartilhando a mesma casa”, brinca.

A postura veganista e a indignação de Anthony com os maus tratos a animais é fácil de notar. “Frequentemente, quando alguém pede algum prato sem carne ou queijo em meio ao público de um restaurante, algumas pessoas se entreolham e disfarçam risadas. Pra quê isso? Nós, humanos, não deveríamos, com nossos celulares, ipods e outros recursos tecnológicos, ser capazes de viver com mais compaixão e consciência?”.

O conselho de Anthony para quem quer saber mais sobre maus tratos a animais é acessar o google.video.com e escrever "earthlings" (em português, “terráqueos”). Ou ir direto a http://video.google.com/videosearch?q=earthlings+terraqueos&emb=0&aq=f#
.

Ideologias à parte, Anthony é uma pessoa como outra qualquer, que batalha dia a dia para ganhar o seu pão. Proprietário de uma escola de inglês --na qual 95% dos estudantes são brasileiros--, ele trabalha seis dias na semana, administrando as atividades didáticas, finanças, publicidade etc. “Eu realmente amo e me divirto com a parte técnica do meu trabalho (ensinar a estrutura grámatica do inglês e pronúncia). A parte que eu acho, algumas vezes, complicada é a administrativa”.

Como a maioria dos alunos é composta por brasileiros que trabalham nos Estados Unidos, a escola de Anthony tem que estar preparada todo o tempo para qualquer tipo de mudança nos horários dos estudantes. “A vida de imigrante muda frequente e abruptamente. Por isso, temos que ser flexíveis o bastante para nos adaptarmos às novidades”, diz.

O professor, que se graduou em psicologia em 2000, ainda exerce a função de intérprete -- geralmente ajudando brasileiros a se comunicarem em hospitais e na corte judiciária. “Às vezes me vejo em situações completamente loucas”!

Sua ligação com o Brasil vai além dos familiares de Belo Horizonte e dos alunos brasileiros. Anthony conhece cerca de treze estados brasileiros: Minas, São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amazonas, Goiás, Pernambuco, Paraná e por aí vai. Quando fecha a escola, usualmente em janeiro (época de férias), ele faz as malas e vem para o Brasil.

O lugar que mais gostou até hoje, “acredite ou não”, é São Paulo, especialmente o interior -- Vale do Paraibuna. Não conheço o local, mas penso que deve ser, no mínimo, a cara do Anthony. “Lá conheci pessoas e fiz amizades que significam mais do que palavras podem expressar”, diz.
Sentimento semelhante ele teve em janeiro deste ano, quando esteve na Amazônia. Nesse caso, foi o verde que o deixou sem palavras. (Segundo Anthony, quem quiser ver as fotos da Amazônia e de outros lugares pode adicioná-lo no orkut: perfect_english@comcast.net. Na apresentação de slides deste blog também há fotos da viagem.)

E quem quiser fazer outra pergunta (de qualquer natureza), saber mais sobre as ideologias, viagens, ou sobre a escola de inglês, pode mandar e-mail também. Por que ele é assim: um cara aberto, boa praça... Veganista, protetor dos animais, um “free thinker” (como ele se define), professor de inglês, intérprete e gente boa. E metade brasileiro, claro.

Curtas:
Nome completo: Anthony Michael Botti
Aniversário: 28 de janeiro
Onde mora: Long Branch, New Jersey. (Falou no começo que morava em New York por causa da proximidade das cidades e por achar que eu não conheceria New Jersey.)
Hobby: ler (zoologia, psicologia e filosofia), correr e ouvir música.
Uma pessoa que admira: Edgar Alan Poe, “cuja imaginação era infinita”.
Um pensamento: “Go vegan for your health, for animals and for the planet.”
Um lugar: Itália (terra encantada de meus ancestrais), Havaí, Brasil, Holanda.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Figura nº 3: Sanjay, o indiano


Logo que cheguei ao Brasil, a novela Caminho das Índias começou. Inevitavelmente, lembrei-me de Sanjay – meu colega indiano do curso de inglês – e lhe enviei o link do site da novela. Seu comentário, que já suspeitava qual seria, me fez pensar muito sobre o modo como nós, ocidentais, vemos o povo do outro lado do mundo. “Aquele site me fez rir muito”, disse.

O porquê está nos vídeos que mostram elefantes e camelos pelas ruas do país. “Isso acontece apenas em uma parte realmente subdesenvolvida do país. Mas é claro que se você quiser trazer seu elefante para a rua, ninguém vai pará-lo”. O mostrado no vídeo não é, de fato, uma mentira. Mas tão pouco pode ser considerado um retrato da Índia atual, como o fazem os “superiores ocidentais” que já vi por aí.

Hoje, pode-se dizer que jovens como Sanjay Sureshbhai Rathod representam a potencialidade do tigre branco. Nascido em Ahmedabad, no estado de Gujarat, Sanjay é , aos 25 anos, fluente em inglês, graduado em Computer Applications e Direito, quase dono de um título de MBA - que está cursando na Southern States University, em San Diego (EUA) - e possui parceria com uma firma indiana de construção e stock brokerage.

Em julho de 2007, ele decidiu a ir aos Estados Unidos para se juntar ao seu irmão (de quem ele diz não conseguir viver longe) e explorar um jeito diferente de viver. “Sou muito curioso quando se trata de conhecer novas pessoas e nova cultura. Adoro viajar! Não tenha dúvidas: viajarei o mundo antes de morrer. E logo, logo, visitarei Brasil e Turquia”, diz. (Também já passou por Dubai, Cingapura e Canadá.)

Com visto de estudante, Sanjay não tem permissão no momento para trabalhar na terra do Tio Sam. O dinheiro que gasta com o curso (no qual tem aproveitamento A), aluguel, alimentação e entretenimento é resultado de uma poupança que adquiriu em seu país, sem a ajuda dos pais. Com registro de advogado na Alta Corte de Gujarat, ele já teve dois trabalhos no governo, que lhe permitiram um saldo razoável no banco.

A vida nos Estados Unidos vai bem. Um de cerca de 3 milhões de indianos em solo americano, ele afirma não sentir tanto o preconceito. “Às vezes eu noto algum, mas não ligo muito”. Em San Diego Sanjay diz encontrar uma boa atmosfera, pessoas legais, boa infra-estrutura e menos trânsito engarrafado. “É um bom lugar para se viver”.

Esse é, sem dúvida, um atrativo. Mas para ficar nos Estados Unidos, só se fosse para construir uma carreira de empresário. “Tenho algumas ideias sobre negócios e pessoas com as quais poderia investir. Mas nada é certo. Também penso em voltar à Índia para continuar minhas atividades na área da advocacia e fazer algum trabalho voluntário para ajudar pessoas pobres”.

Amigo de mexicanos, americanos e, claro, indianos, ele considera a Índia o extremo oposto dos Estados Unidos. “O jeito de viver, os padrões de vida, as leis, a cultura.... É tudo diferente”. Diferença essa que, em geral, não o incomoda. (Pudera... No caldeirão de San Diego, a diversidade é um encanto e um aprendizado para quem quer realmente expandir os horizontes.)

E você ficaria nos Estados Unidos para sempre, Sanjay? “Acredito que não. Lar é lar. Lar é aquele lugar onde você sempre achará a paz verdadeira”, diz. Orgulho do país em que nasceu é o que não falta: “É um privilégio e um prazer ser indiano. Esta é a terra onde você aprende o que é relacionamento. Eu amo ser indiano. Nunca me arrependi disso na vida. Alguns indianos não têm orgulho, principalmente os que vivem aqui nos Estados Unidos. Mas me considero realmente abençoado e respeito todas as outras nacionalidades. Se eu tivesse a chance de renascer, com certeza escolheria ser indiano”.

A vida na Índia
Sanjay cresceu numa casa cheia. Mãe, pai, irmãos (um menino e uma menina), avós e tios moravam na residência. Segundo ele, a família sempre viveu – e vive - com conforto, numa das melhores área da cidade, e sempre teve bens, como casas e terrenos. As boas condições de vida relacionam-se a região em que vive, que é conhecida pelas várias ofertas de trabalho. (Segundo ele, o estado de Gujarat é o pólo industrial da India.)

Sua infância foi tranquila e marcada por diversos encontros familiares. O dia-a-dia era o de uma joint family comum. [Uma Hindu Joint Family ou Hindu Undivided Family (HUF) é um estilo de vida familiar praticado na Índia, no qual, geralmente, três gerações vivem juntas – sob o mesmo teto; compartilham a mesma cozinha; dividem renda e despesas; oram no mesmo lugar; e na qual todas as decisões são feitas pelo homem-chefe da família.]

Como parte da cultura hindu, Sanjay e seus parentes seguem os princípios do Geeta, o livro sagrado. Mas nem todos que se relacionam com a família são hindus. Vários amigos de Sanjay são muçulmanos e seguem o alcorão, o que ele diz não representar problema algum. “O islamismo e o hinduismo são as principais religiões no país. Mas há várias outras, como cristianimo, sikhismo, budismo etc., que também se subdividem em castas, possuem suas próprias crenças, costumes, vestuário, comida, rituais, língua ou sotaque. Na estrutura social hindu, por exemplo, há as comunidades dos tailers, farmers, gold-smith e black-smith. A resposta para como consigo lidar com todas essa mistura está no fato de que nós vemos uns aos outros como seres humanos. Religiões à parte, temos muito em comum. Geralmente, não trazemos nossa religião para nossos relacionamentos”, explica.

Amizade
Na Índia, parte da rotina de Sanjay era o Vishnu Pan Parlar, lugar em que grupos de pessoas se reúnem para jogar conversa fora, fumar e beber chá ou drinks gelados. Todas as noites, depois do jantar, ele se juntava a cerca de 25 amigos no local. “Não importava o quão ocupados estivéssemos ou como estávamos nos sentindo. Sempre nos reuníamos lá para fumar (tabaco) e conversar por horas sobre problemas, política, saúde, relacionamentos, negócios, cricket etc.. Eu gosto desse pan parlor porque é longe do centro urbano e possui uma vista verde bonita. Vários outros grupos também vão até lá por esse motivo, já que muitos jovens querem esconder da família que fumam ou possuem algum tipo de vício”, conta.

Hoje, o grupo de amigos encontra-se desfalcado, já que alguns estão nos Estados Unidos, outros na Inglaterra e em diferentes países. Mesmo sem os encontros diários, Sanjay conta que todos procuram manter o contato. No Orkut, a comunidade Vishnu Pan Parlar foi criada justamente para mantê-los unidos, ainda que virtualmente.

Reconhecendo a Índia
Sanjay não nega os problemas pelos quais o país passa. Mais que caos no trânsito, a Índia sofre com uma estrutura política na qual muitos não acreditam funcionar. “A nossa política tem influenciado negativamente o desenvolvimento do país e as vidas de muitos. Corrupção é a rotina de qualquer indiano. Se você quer que as coisas sejam feitas, você tem que dar dinheiro. E em algumas vezes você tem que dar a propina diretamente à pessoa que comanda o serviço, ao chefe”, explica. “Outro ponto negativo é que muitos ainda não sabem ler ou escrever”.

Inevitável não lembrar do Brasil ao ouvir isso. É, os “em desenvolvimento”de lados opostos do planeta vivem problemas parecidíssimos. O abismo social ainda é grande e pobres moram ao lado de empresários riquíssimos. Raciocinar isso não é difícil. Difícil é (para mim) ouvir gente (ocidental) falar que a Índia é coisa de outro mundo, que não têm nada a ver com a gente, que lá elefante é o principal meio de transporte. É o mesmo que achar que todo brasileiro tem uma minisselva e um mico leão dourado na varanda de casa.

A visão de que tudo que está no oriente é “de outro mundo” dá preguiça. É uma questão de mapa mundi que deve ser abolida. Quem ainda não sabe – ou não procura saber – das potencialidades dos países do oriente e ainda demonstra preconceito, precisa se livrar de pensamentos errôneos. Esses sim, subdesenvolvidos. Não é, Sanjay?

Curiosidades sobre a Índia (enviadas por Sanjay):

Q. Who is the GM of Hewlett Packard (hp)?
A. Rajiv Gupta

Q. Who is the creator of Pentium chip (needs no introduction as 90% of the today's computers run on it)?
A. Vinod Dahm

Q. Who is the third richest man on the world?
A.. According to the latest report on Fortune Magazine, it is Azim Premji, who is the CEO of Wipro Industries. The Sultan of Brunei is at 6 th position now.

Q. Who is the founder and creator of Hotmail (Hotmail is world's No.1 web based email program)?
A. Sabeer Bhatia

Q. Who is the president of AT & T-Bell Labs (AT & T-Bell Labs is the creator of program languages such as C, C++, Unix to name a few)?
A. Arun Netravalli

Q. Who is the new MTD (Microsoft Testing Director) of Windows 2000, responsible to iron out all initial problems?
A. Sanjay Tejwrika

Q. Who are the Chief Executives of CitiBank, Mckensey & Stanchart?
A. Victor Menezes, Rajat Gupta, and Rana Talwar.

Q. We Indians are the wealthiest among all ethnic groups in America, even faring better than the whites and the natives.
There are 3.22 millions of Indians in USA (1.5% of population). YET,
38% of doctors in USA are Indians.
12% scientists in USA are Indians.
36% of NASA scientists are Indians.
34% of Microsoft employees are Indians.
28% of IBM employees are Indians.
17% of INTEL scientists are Indians.
13% of XEROX employees are! Indians.

Some of the following facts may be known to you. These facts were recently published in a German magazine, which deals with WORLD HISTORY FACTS ABOUT INDIA .
1. India never invaded any country in her last 1000 years of history.
2. India invented the Number system. Zero was invented by Aryabhatta.
3. The world's first University was established in Takshila in 700BC. More than 10,500 students from all over the world studied more than 60 subjects. The University of Nalanda built in the 4 th century BC was one of the greatest achievements of ancient India in the field of education.
4. According to the Forbes magazine, Sanskrit is the most suitable language for computer software.
5. Ayurveda is the earliest school of medicine known to humans.
6. Although western media portray modern images of India as poverty striken and underdeveloped through political corruption, India was once the richest empire on earth.
7. The art of navigation was born in the river Sindh 5000 years ago. The very word "Navigation" is derived from the Sanskrit word NAVGATIH.
8. The value of pi was first calculated by Budhayana, and he explained the concept of what is now k! nown as the Pythagorean Theorem. British scholars have last year (1999) officially published that Budhayan's works dates to the 6 th Century which is long before the European mathematicians.
9. Algebra, trigonometry and calculus came from India . Quadratic equations were by Sridharacharya in the 11 th Century; the largest numbers the Greeks and th e Romans used were 106 whereas Indians used numbers as big as 10 53.
10. According to the Gemmological Institute of America, up until 1896, India was the only source of diamonds to the world.
11. USA based IEEE has proved what has been a century-old suspicion amongst academics that the pioneer of wireless communication was Professor Jagdeesh Bose and not Marconi.
12. The earliest reservoir and dam for irrigation was built in Saurashtra.
13. Chess was invented in India .
14. Sushruta is the father of surgery. 2600 years ago he and health scientists of his time conducted surgeries like cesareans, cataract, fractures and urinary stones. Usage of anaesthesia was well known in ancient India .
15. When many cultures in the world were only nomadic forest dwellers over 5000 years ago, Indians established Harappan culture in Sindhu Valley ( Indus Valley Civilisation).
16. The place value system, the decimal system was developed in India in 100 BC.

Curtas (sobre Sanjay):


- Qual o significado do seu nome? Sanjay possui um significado histórico. No épico indiano de Mahabharat, Sanjay significa visionário.
- Quais são os filmes de que mais gosta? Omkara (indiano), Beleza Americana e Uma Mente Brilhante.
- O que gosta de ler? Washington Post, Union Tribune, USA Today e jornais da Índia.
- O que gosta de beber? Adoro vodka, mas não bebo muito. Em Gujarat, álcool é proibido. Nos Estados Unidos, bebo um pouco quando vou a festas.
- Americanas ou indianas? Garotas indianas são basicamente orientadas pela família, fiéis e não deixam o parceiro falir para pagar contas próprias. É certeza que uma garota indiana permanece ao seu lado idependentemente da situação pela qual está passando —boa ou ruim. Ela nunca o deixará se possui pouco ou dinheiro nenhum.
- Você pretende se casar e construir uma família? Sim. Quero casar com a pessoa certa, ter filhos e ser feliz. Não importa o lugar do mundo em que estejamos. O mais importante é que todos estejam felizes.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Figura nº2: Gari "underground"















Há 50 anos, um piercing no rosto era certamente uma novidade. Quase um pecado. Hoje, assim como tatuagem, ter um brinco perfurado na língua, na sobrancelha, no nariz ou na orelha é mais que normal. Mas o que dizer de 93 piercings espalhados (ou seria aglutinados?) em todo o rosto e nas orelhas, 15 tatuagens, unhas e cabelos coloridos e um uniforme ‘laranja cheguei’?

É inevitável não olhar para ela. Margarete Maria da Silva, de 52 anos, chama a atenção por onde passa e varre. “As pessoas mexem comigo, me parabenizam e dizem que sou corajosa”. Há 23 anos limpando as ruas de Belo Horizonte, essa gari underground coleciona furos que guardam uma curiosa história de herança indígena.

Tudo começou no aniversário de oito anos, em 1965:

- Filha, infelizmente não tenho dinheiro para comprar um presente, mas posso levar você até a pracinha para assistir a um filme. Quer?
- Quero, mãe.

Aí nasceu a inspiração de Margarete. Na tela, a cena de uma índia que perfura o nariz com pedaços de bambu. No banco da praça -- a principal da cidade de Serro, em Minas Gerais -- os olhos encantados de uma criança. “Não me lembro do nome do filme, mas me lembro direitinho da índia se ‘estrepando’ toda. Ela mesma enfiava o bambu no nariz”, recorda.


Aquilo não saiu da cabeça da menina. Ao chegar à casa, os pés de ora-pro-nobis, laranjeira e coqueiro deram ainda mais asas à sua imaginação. Ela retirou vários espinhos e esperou o dia seguinte para, digamos, se enfeitar. Depois que a mãe saiu para o trabalho, pela manhã, ela se trancou no quarto e deu início a operação-espinho.

“O primeiro eu ‘estrepei’ no nariz. Não senti dor nenhuma. Aí fui colocando os outros que peguei na pornobe (sic). Pus na testa, na bochecha, perto do olho... Tudo de uma vez só”.

Quando a mãe chegou do trabalho com a ‘mutuca’ (cesta com alimentos) na mão, Margarete se escondeu -- um comportamento incomum diante da chegada da comida. Ela esperou o medo passar um pouco e apareceu: “Olha, mãe. Olha! Eu também sou índia!”

“Foi aí que ela me cortou na precata roda e na vara de marmelo, para depois me levar ao médico”. Chocado, ele retirou todos os espinhos e alertou: “vigie a sua filha para que ela não repita isso”.

- Não adianta, mãe. Eu vou pôr tudo de novo.
- Se você fizer isso, te arrebento no couro.

Para fugir do possível castigo e não deixar que um de seus nove irmãos desconfiasse, Margarete voltou a colocar os espinhos e fugiu para a casa da madrinha. Mas sua desobediência não foi aprovada e a mandaram de volta para casa.

A mãe entrou em pânico. E a filha também: “se não me deixar ficar com eles, eu vou fincar todos no meu coração.” E agora? Levá-la para o médico e depois ter que voltar para o mesmo procedimento não iria funcionar. Como dizia a mãe, “médico tem coisa mais importante para fazer do que tratar de malcriação de criança”.

- Você não está sentindo dor, filha?
- Não!

Então, “seja o que Deus quiser”. E assim foi. Durante trinta anos ela manteve partes de sua laranjeira, coqueiro e ora-pro-nobis no rosto. Ela se acostumou e a família também -- principalmente seus sete filhos, que cresceram vendo uma mãe diferente das outras.

A troca
A decisão de trocar os espinhos por piercings surgiu depois que ela começou a trabalhar na empresa responsável pela limpeza urbana de Belo Horizonte, que a aceitou com os enfeites na cara desde que estivesse segura de que isso não lhe atrapalharia a enxergar. No exame admissional, Margarete provou que a visão estava boa, assim como a saúde.

Aos poucos, a gari foi comprando piercings que via em lojas do centro da cidade -- que iam de R$ 1 a R$ 10 -- e, após juntar vários, trocou tudo de uma só vez. “Eu vi que eles estavam fabricando coisa melhor que espinho”.

- Margarete, mas não é possível que não dói!
- Iiiiih, minha filha... Nunca tive problema de inflamação. Cicatriza tudo rapidinho. Eu posso cair no chão e me esfolar todinha que saro rápido. Eu mesma coloco todos os piercings. Aprendi com os espinhos, né?

Dos setes filhos, apenas o mais novo, de 19 anos, tem um piercing na boca. Já a namorada do garoto, que possui um no nariz, se inspirou na sogra e colocou mais um na orelha.

O que as pessoas falam
Segundo Margarete, apesar de o preconceito de hoje ser muito menor do que há quarenta anos, ela nunca se sentiu incomodada. Os irmãos costumavam dizer que ela era de outra raça e mundo; outros a chamavam de “louca varrida” e “indígena”; e alguns a apelidaram de “louro”, “papagaio” e “periquito” por causa do cabelo vermelho. “O pessoal falava que eu tinha pacto com o demônio”, conta.

Mas isso não a afetava. Principalmente quando, antes de ser gari, ela vendia bijuterias nas ruas da cidade. “Meus espinhos atraíam as pessoas. Elas gostavam do meu tipo. Eu vendia muito e até sobrava dinheiro”. Os acessórios eram do estilo hippie, feitos com cordas, clipes, miçangas e anéis de lata.

As tatuagens, muitos pensam ser adesivos colados. Seu colega de rua as fez há mais de 20 anos, quando passou um dia inteiro com a agulha e tinta sobre o corpo de Margarete. A que faz mais sucesso até hoje é a de um casal de leões fazendo amor nas suas costas. “É a que eu mais gosto, né? É o meu signo”.

No trabalho, ninguém parece se assustar com o visual da gari. “Eu não tenho nada contra. Acho até legal. Todo mundo já está acostumado com ela assim”, afirma Teresa Azevedo, colega de Margarete e também gari.

Na escola (agora ela está aprendendo a ler e a escrever), o único comentário foi o do professor, que pediu a ela para cortar um pouco as unhas, senão não seria possível usar o computador. “Quando tentei digitar alguma coisa no teclado, o “r” saiu seis vezes na tela do computador (Rrrrrr).” Depois do pedido, Margarete cortou as de alguns dedos.

“Eu gosto de ser assim. É uma loucura mesmo... Um espírito meio aventureiro. Sabe como é, né? Quanto mais faz, mais quer. Eu pretendo colocar mais piercing sim”, diz.

O estilo, digamos radical, se pode notar também no seu dia-a-dia. Margareth gosta de andar com pulseiras no pé e calça rasgada. Do que ela não abre mão de maneira alguma é dos brincos no rosto. Se um dia tivesse que tirá-los, provavelmente perderia sua identidade. Mas nunca a lembrança do filme. “O piercing de que mais gosto é este aqui da orelha, que tem formato de espinho”.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Figura número 1: Gladys Rivera

Ela estava passando um pano úmido no chão quando eu a vi pela primeira e, talvez, única vez. “Posso passar?”. “Ahã”, ela fez com a cabeça e sorriu.
Naqueles olhos de quem já viveu um pouco de tudo (ou um tudo de pouco) logo notei um imenso carisma.
“Tem alguém em casa”, perguntei. “Yeah”, e apontou para a cozinha.

Não tinha cara de americana e não quis conversar muito, apesar de ter demonstrado bastante simpatia. Mas eu fiquei curiosa e resolvi puxar assunto. Como é de praxe ter a mão-de-obra latina para trabalhos domésticos nos Estados Unidos, não tive dúvidas ao arriscar o espanhol:


- De dónde eres?
- Soy de Colômbia. Hablas español?! Pero pensé que eras gringa!
- No, no. Soy brasileña!
- Brasileña? Mira qué interesante! Los dos que están pintando la cocina también hablan español.

- Son de Nicaragua!

Aí pronto. Latino com latino. A gente se entende. Ainda mais lá, onde somos considerados, salvo exceções, apenas os coitados que não tiveram oportunidade em seu país - lugar em que criamos micos e papagaios na selva do quintal de casa.
E essa é parte da verdade de Gladys Rivera, uma colombiana de 50 anos que decidiu deixar a terra natal, Tunja (Boyacá), para ir aos Estados Unidos. A esperança: melhor qualidade de vida e dinheiro no bolso para pagar a faculdade do filho.

Não foi uma decisão simples. Um dia a gerente do escritório em que trabalhava lhe deu uma ideia: “se está tão difícil, por que não vai para os EUA fazer o mesmo que faz aqui? Tenho um contato lá para você”. “Neste dia, não pude nem dormir, de tanto que pensava em estar nos Estados Unidos. Mas e meu filho?”.

Oferecer melhor educação ao menino e, ao mesmo tempo, abandonar um passado sofrido, apareciam, de repente, como um sonho possível.
Depois de uma infância pobre ao lado dos pais e sete irmãos; de um casamento sofrido que durou catorze anos (“meus pais diziam que eu ficaria mal falada se me separasse cedo”); e de trabalhos que não pagavam os estudos do filho e as contas, por que não ir?

“Quando contei para o meu filho a ideia, a resposta foi: ‘por que não vai? Aproveita a oportunidade’”. Dois meses depois a aventura de Gladys começou.

Primeiro trabalho: casa de um diplomata, irmão da ex-gerente colombiana. O visto de trabalho saiu rápido e lá estava ela, morando na residência de uma família em que mais se fala inglês que espanhol e trabalhando 40 horas por semana. Só depois das 2 horas da tarde de sábado é que Gladys tinha folga. “Às 6 horas da manhã já estava de pé, preparando o café da manhã para despachar os meninos para a escola”. Ou, pelo menos, essa era a intenção. “Não conseguia cumprir os horários e fazer todo o serviço de casa, porque eles faziam festas todos os finais de semana até 4 horas da manhã e eu tinha apenas duas horas para dormir”. Quando Gladys tentava arrumar uma brecha de tempo para estudar inglês, a resposta da avó das crianças vinha na hora: vai sair de casa por quê? Você veio para trabalhar, e não estudar.” Diante de tanta simpatia, “fui cansando, sabe? Resolvi sair.”

Aí surgiram problemas com os papéis e ela chegou até a pedir ajuda para ser deportada.
Mas aí veio o segundo trabalho: cuidar de uma senhora. A casa era de hispânicos. Pagavam mal, mas pelo menos ela tinha um lugar para dormir. Dois anos depois, a velhinha se mudou para a casa de sua filha na Flórida e Gladys, novamente, teve que procurar um emprego.

Que batalha, hein? “Aaaaaaai”, ela diz, entortando a cabeça, enrugando a testa e sorrindo. Mas uma amiga que estava grávida, e teria que abandonar temporariamente as casas que limpava, a indicou para os serviços.

Terceiro trabalho: faxinar residências. Aos poucos, se familiarizou com as donas e ficou “de casa”. “Elas me convidam para muitas festas. E não é para eu trabalhar. É para participar mesmo. Me dou muito bem com elas”. E é o que Gladys faz até hoje, além de limpar escritórios depois do expediente, ser babá algumas vezes e recolher pratos em festas nos finais de semana. “Agora estou pensando em abrir a minha própria empresa de limpeza de casas”.

Gladys leva cinco horas para limpar casas grandes e duas para apartamentos. Trabalha de 6 da manhã até às 11 da noite, geralmente. Nas horas livres, uma das coisas que mais gosta de fazer é ir ao shopping comprar lembranças para mandar para seu filho, um homem de 27 anos que possui duas graduações, um mestrado em andamento, e nenhum emprego. “En mi pais no hay trabajo”. (Mas agora ela diz que ele resolveu abrir uma discoteca. “A ver.”)

Além de escolher presentes para ele, Gladys também gosta de ir a boates às vezes e, “principalmente, conversar por chats na Internet”.
Há dez anos ela não vê a família. Mas uma de suas chefes a está ajudando a organizar os papéis. “Se Deus quiser irei a Colômbia ver meu filho. Ele se casou e agora tem uma filhinha de dois anos”.

E como é a vida aqui? “Sinto muito o preconceito das pessoas por eu ser latina e porque não falo inglês (mas entende tudo). Mas eu sou muito 'afortunada', pois meus chefes entendem o meu mau inglês.” E está feliz? “Sim, em geral, muito feliz. Mas quero visitar meu país. Lo adoro mucho!”

Gladys Rivera mora em Baltimore, no estado de Maryland, que fica bem próximo a Washington D.C., aonde ela vai todos os dias para trabalhar. Parou de estudar na Colômbia quando tinha 13 anos, já que teria que repetir o ano por causa da matemática. Hoje ela já sabe um pouco melhor como fazer contas: por cada faxina recebe de 100 a 120 dólares, fora os bicos. Trabalha de segunda a sábado e limpa, em média, oito casas por semana.
O dinheiro que junta, agora, vai para a poupança. "Meu filho já está grande e casado. Já cumpri meu papel".


Às figuras

E de repente surge aquilo: tênis furado e tatuagem no braço; maleta de executivo e boné; cabelo branco e mochilão nas costas; calos nas mãos e sorriso no rosto. Estranha ou diferente? Inteligente e original? Talvez. Mas uma coisa já dá para notar: tem cara que tem história para contar. E se tem, por que não ouvir?
Foi isso que fiz na minha última viagem. Durante quase seis meses, ouvi cada caso que daria livro... Por isso, voltei com a vontade de contar um pouco sobre algumas pessoas que chamaram minha atenção e, principalmente, de ouvir mais histórias, sejam de pessoas daqui do Brasil, Estados Unidos, Colômbia, Alemanha ou Letônia.
É que somos 7 bilhões no mundo, mas vivemos tão parecido e tão diferente ao mesmo tempo... E nesse meio tem tanta gente com experiência interessante, que acho que vale a pena conhecer e registrar. (Não dei a volta ao mundo e nem vivo viajando. Mas as poucas vezes que viajei me deram a oportunidade de conhecer um mundo dentro de cada e, acima de tudo, a curiosidade para desvendar histórias, rostos e retratos que aparecem por aí.)

Tome seu assento, sinta-se em casa e ouça. Por que essas figuras que farão parte do meu blog são, no mínimo, notáveis!