domingo, 16 de agosto de 2009

Os do colégio


Não é para menos. Dezesseis anos no mesmo colégio guardam figuras impossíveis de ser esquecidas. Hoje, durante encontro do 3ºB -- que reuniu uma galera que não se via há quase seis anos --, as lembranças vieram à tona. Amigos, professores, seguranças, disciplinários, provas, colas, churrascos, namoros, brincadeiras e vários casos.
Por isso, em homenagem a essa turma ilustre, registro aqui alguns rostos que serão lembrados para sempre, certamente.
Quem foi da época do Santo Agostinho, principalmente, sabe quem foram:

Seu Brás: o porteiro mais gente boa e carismático que já passou pelo colégio. Alguém discorda? Piadinhas e dentadura para fora. Hilário! Não sei quanto tempo ele ficou lá. Mas sei que marcou a vida de muitos, com certeza. (Alguém tem notícias dele?)

Dona Geralda: batia o sininho para sinalizar o início ou término do recreio e levava cafezinho, pães de queijo e biscoitinhos da cozinha para a sala dos professores. Direto e reto a parávamos no corredor para "roubar" uns comes. Mais tarde, Neide e Fátima passaram a bater o sininho, certo? Ou já tinha sinal nessa época?

Flávio, do chup-chup: depois da aula, chup-chup e pirulito que deixava a língua azul eram sagrados. Além de skittles e skate (bala em forma de tablete fino), ele vendia aquele pirulito com um pozinho que explodia na boca. Lembram?
Flávio era a companhia de quem ficava esperando a mãe ou pai até mais tarde na porta do colégio. Ficou por lá até proibirem a venda de produtos irregulares nas redondezas, não foi? Galera entristeceu.

Vampeta: segurança gente finíssima! Bigodinho e sorriso no rosto. Um dia a Laura, ainda com 16 anos, foi com a Blazer do pai para a aula! Não conseguiu estacionar. Quem deu uma mãozinha? Vampeta (sim, ele parecia um pouco com o jogador do Corinthians).

Professores

Ricardo, de geografia (8ª série?): excelente. Não me lembro de alguém que não goste dele. Uma graça. Quando o assunto era importante, escrevia LOOK no quadro, com os Os em forma de olhos.

Rose, de matemática (7ª série): ótima. Contava que sempre lia um pouco antes de dormir. Tem três filhos, que na época eram muito pequenininhos. Todas as meninas queriam brincar com eles.
Durante uma aula, ela contou um caso que fez todo mundo rir. A empregada (não sei se dela ou de alguém) colocou o nome da filha de Madeinusa. Motivo? Achou bonita a palavra que aparecia atrás do rádio-relógio que limpava!).

Tia Renata (2ª e 3ª séries): essa foi a melhor de todos os tempos. Não sei quem da foto foi aluno dela. Muitos que não foram hoje lembrariam fácil: Nathália Daniel, Marcela e Lídia, por exemplo. Ela era ídola de todas as meninas. Todo mundo queria ter o cabelo curtinho que nem o dela, passar batom vermelho e aprender a levantar apenas uma sobrancelha (aprendi por causa dela). Ensinava muito bem e todos a amavam. Fizemos abaixo assinado para ele poder ser nossa professora por mais um ano. A mais especial de todos os tempos do ensino básico. Ela aindá dá aula lá?
Lembro que essa era a época do "Carrossel".

Um pouco mais à frente...

Mateus, de matemática (1ºC): muito bom. Era um dos únicos que conseguia calar o 1ºC, a sala mais agitada e entrosada daquele ano. Quadro impecável, letrinha perfeita. Namorava a professora de inglês na época.

Jorge, de español (2ºE): A mí me gustan las hamburguesas, con papas fritas y mayonesa, con mucho queso y mucho jamón, quien inventó las hamburguesas es un campeón. Passou essa musiquinha pra gente logo nas primeiras aulas. Ficou na cabeça. Hilário. Difícil também esquecer seu "olor" y dientes y uñas "limpios".

Dias, de química (2ºE e 3ºB?): "Mestre", "uala", "uhuhuhu", catupiry... Era o que mais dava corda para as besteiras da turma. Aderiu à mãozinha na testa para indicar necessidades fisiológicas (rs!). Quando não queria papo com a galera, o clima ficava tenso.

Sônia Helena: perigoso comentar. Pode dar processo. rs!
Lembram desse caso?

Marco Antônio, de biologia (3ºB): ensinou que tsé-tsé era o mosquitinho que tinha picado a galera que dormia durante as aulas.

Silvânio, de geografia (3ºB): melhor não comentar! rs! Gente boa.

Dona Marta, (3ºB): Vai ficar aí, deitado em berço esplêndido? A situação está periclitante. Mito do colégio. Só quem foi aluno sabe do que estou falando. Peça raríssima. Difícil descrever. E a foto que aquela vez colocaram debaixo da chamada? Ela ainda guardou. Rs!

E muitos outros...! Alguém lembra de mais algum professor notável?

No próximo post, as figuras serão vocês, da foto, e outros colegas que não apareceram. Me ajudem a lembrar dos casos!

Bons tempos, hein?! Que não voltam nunca mais.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fabrício Falconi Costa: Da genética a um mundo melhor


O que você quer ser quando crescer? Astronauta. Quero descobrir o espaço, pisar a lua, pegar carona num foguete da Nasa e ver a Terra lá de cima. Esse foi o seu pensamento até os 11 anos de idade.

A idéia só mudou quando ele estava na sexta série do primeiro grau —época em que, durante as aulas de biologia, descobriu o mundo microscópico. Em meio às matérias de matemática, história, português, geografia e física, nada chamava tanto a atenção quanto a biologia [bio (vida) + logus (estudo) = estudo da vida]. E foi assim até o terceiro ano do segundo grau, na metade da década de 90. Naquele tempo, o Projeto Genoma Humano, apesar de estar apenas começando, já despertava o interesse de Fabrício Falconi Costa—o garoto de 17 anos e uma firme decisão: estudar o mundo da genética.

Desde o início, tudo conspirou a seu favor. "Além da professora de biologia, que teve importância fundamental no meu aprendizado, os assuntos relacionados à genética me impressionavam." No entanto, como nenhuma universidade do país oferecia um curso que atendesse a seus interesses, ele escolheu Ciências Biológicas na UFMG e —sabiamente— se especializou em Genética e Bioquímica no laboratório do Dr. Sérgio D. Pena.

Devido ao bom desempenho, quando terminou o curso, veio o convite inusitado: fazer um doutorado no Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer. "Não pensei duas vezes e fui morar em São Paulo." Aos 26, já tinha um Ph.D. em pesquisas sobre o câncer e era fonte para matérias de veículos de circulação nacional sobre a doença.

De lá para cá, a carreira só decolou. De São Paulo foi para Boston —onde fez treinamento de pós doutoramento em instituição ligada à Harvard— e de Boston foi a Chicago, para dar início ao estudo do que hoje parece ser a menina dos olhos da ciência: o genoma (soma de genes que nos identifica, manual de instruções, aquilo que explica por que aquele filho tem nariz grande, é baixinho ou alto, tem olhos azuis ou castanhos, pele clara ou escura etc.).

O gene
Na linguagem científica, Fabrício se dedica a uma área conhecida como genômica, que trata do estudo das propriedade globais do genoma, e não apenas de genes específicos. O objetivo é observar o sequeciamento dos genes e entender como eles são regulados e expressos pelas células.

E o que nós temos a ver com isso? Tudo. "O genoma é o código da vida. Problemas em sua sequência (regido pelas letras A, C, G e T) podem ser sinônimo de doença ou propensão a desenvolvê-la." Não é à toa que pesquisadores de todos os cantos do planeta se fascinam com esse novo universo.

O que dizer se, dez anos antes de aparecer, uma avaliação detalhada dos seus genes indicasse que você tem 100% de propensão de desenvolver câncer? Se, duas décadas antes (antes de casar, construir família e ter filhos), descobrissem que você tem uma doença que prejudica os osso, por exemplo, e que, se não cuidada, pode ser transmitida ao bebê?

Futurologia desnecessária? Não, obviamente. "Em algum tempo, vamos poder sequenciar o genoma de todas as pessoas por um valor baixo e identificar defeitos genéticos antes das doenças aparecerem. Isso também significa desenvolvimento de novas tecnologias e evolução da medicina personalizada."

Personalizada? "Seria o desenvolvimento de medicamentos específicos para cada pessoa para evitar efeitos colaterais."Os efeitos colaterais de remédios são causados, em geral, por serem utilizados por massas de pessoas. E, como cada indivíduo tem um background genético diferente do outro individuo, a metabolização e o efeito das drogas é diferente em cada um."

Ou seja, com genes devidamente identificados, haverá remédios feitos especialmente para você, mim, sua mãe, seu primo e amigo. Não mais dores de cabeça, náusea ou irritabilidade ao ingerir aquele antibiótico ou anticoncepcional. Nada.

O câncer
Atualmente, Fabrício e sua equipe se debruçam sobre as células normais e cancerígenas para entender como os genes se comportam em diferentes situações (sob a interferência de alguns medicamentos, por exemplo). Assunto difícil para alguns, tarefa de honra para ele.

Como se sente ao estudar uma doença para a qual ainda não encontraram a cura? "É muito desafiador, pois temos que estudar muito para entender o funcionamento normal das células e, depois, tentar compreender o funcionamento das células tumorais."

Realista, Fabrício faz a sua análise: "Acredito que nunca haverá cura para essa doença. Mas, possivelmente, conseguiremos desenvolver drogas que vão, no futuro, controlá-la e torná-la crônica (assim como a diabetes)."

Os "defeitos genéticos" são variados e a manifestação das doenças também. Pesquisas na área genômica englobam fibrose cística, spina bifida e outras doenças de desenvolvimento neural. Garantir a cura total é complicado. Por enquanto, a certeza, feliz, é uma só: "O impacto dos estudos da área Genômica para a sociedade são imensuráveis. Provavelmente, as pesquisas associadas a genomas representarão para a Medicina e outras áreas, em breve, o que a chegada do homem à Lua representou", afirma Fabrício.

Pingue-pongue

Por que queria ser cientista?
Quando pequeno, queria ser um astronauta, principalmente pelo fato de ser muito curioso. Além disso, a NASA, nos EUA, estava em alta com o programa espacial e os onibus espaciais. Nessa época, eu montava naves espaciais e sonhava em conhecer o espaço e a lua. Com o tempo, fui perdendo o interesse pelo espaço e me interessei pelo mundo do muito, muito pequeno: a biologia molecular. Ainda estava curioso para saber o que estava dentro das células, e o Projeto Genoma Humano me chamou a atenção. Foi assim que decidi me ingressar na genética. Mas ainda tenho acompanhado o programa espacial da NASA aqui nos EUA, apesar de estar em decadência nos dias de hoje.

Qual é a maior vantagem que você vê no seu trabalho?
A maior vantagem no trabalho que realizo aqui é a constante atualização e aprendizado. A área da ciência é muito dinâmica e tenho que estar sempre ligado às novas tecnologias e ler muitos artigos. Acredito que uma das características mais importantes de ser um cientista é a constante atualização.

Qual foi o maior reconhecimento profissional que você já recebeu?
É dificil medir o reconhecimento profissional, mas já fui entrevistado por revistas do Brasil, como ISTOE —que fez uma reportagem sobre câncer quando eu finalizava meu doutorado— e dos Estados Unidos, como THE ECONOMIST e NY TIMES. Também consegui publicar varios artigos em revistas de bom impacto no meio científico. Um desses foi considerado o artigo com mais downloads, em um ano, de uma longa lista. Essas são importantes conquistas em um mundo tão competitivo, principalmente na área da ciência.

Por que se fala tanto em ética no seu campo de atuação?
A ética é um fator muito importante nos dias de hoje, principalmente agora que vários genomas estão sendo sequenciados e várias empresas oferecem serviços de testes genéticos. Os testes podem revelar defeitos nos genes que aumentam a probabilidade de algumas pessoas virem a desenvolver certas doenças. A ética é importante quando famílias são testadas para defeitos genéticos. O principal objetivo é evitar a discriminação genética por outras pessoas e até empregadores que possam ter acesso a essa informação. (Para saber mais sobre os tipos de testes genéticos disponíveis nos dias de hoje, acesse www.genomicenterprise.com).

O que acha da ciência aqui e da ciência aí nos EUA?
A ciência no Brasil já evoluiu muito, mas existem vários problemas e buracos que ainda levarão anos para melhorar. O Brasil melhorou muito o número e o impacto das publicações cientificas, mas os EUA ainda é o líder mundial em pesquisas biológicas e médicas. Portanto, acredito que ainda é melhor negócio estar aqui nos EUA.

Qual é a vantagem de trabalhar aí? Consideraria a hipótese de viver aqui?
A maior vantagem de trabalhar aqui nos EUA é que as coisas são rápidas e funcionam. Além disso, mesmo com crise econômica, o dinheiro para pesquisa aqui nos EUA ainda é alto —enquanto que no Brasil o financiamento de pesquisa é escasso e concentrado em regiões como São Paulo. Ainda considero a hipótese de voltar ao Brasil em um futuro próximo, se tiver uma proposta de peso. Mas, por enquanto, vou ficando por aqui…

Do que sente falta?
Sinto falta do jeitinho brasileiro para resolver problemas, do verão brasileiro e, principalmente, da família no Brasil. Mas, para aliviar a saudade, vou ao Brasil uma vez por ano.

Qual patente desejaria um dia possuir?
Desejaria possuir uma patente de uma descoberta ou invenção que mudasse os paradigmas científicos e que me desse muito dinheiro.

O que gosta de ler?
Gosto de ler livros de áreas diversas, mas principalmente biografias e ficção científica. No momento estou lendo o livro do atual presidente dos Estados Unidos Barack Obama – “Dreams from my father”.

Qual é seu hobby?
Nao tenho muito tempo para hobbies, mas gosto de navegar pela internet e estar sempre antenado com o novo. Aliás, meu hobby é meu website e minha empresa Genomic Enterprise. Posso passar horas organizando o site e adicionando mais informações a ele.