quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Teresita, niña linda

Após comer "totopos con frijoles y guacamole" e tomar uma Corona Extra, eis que surge uma menininha linda vendendo pulseiras:

- Mira las pulseritas que tengo!
- Hum... Lindas... Cómo te llamas?
- Tereza.

Daí em diante, uma amizade só! Teresita, a primeira figura notável que conheci no México, na cidade de Valle de Bravo (a cerca de uma hora e meia de D.F.). Sua mãe, Rubi, fica no estande que possuem na feirinha da praça principal, enquanto Teresita sai pelos arrredores, com seu carisma, para arrecadar alguns pesos mexicanos. E negocia como ninguém. Três pulseiras saíram por 25 pesos (aproximadamente R$ 3,30).

Mas só se preocupou com a venda depois de uns 40 minutos. Depois de ter contado o nome da mãe, do pai (Cristopher), a idade (7); de ter falado sobre a escola e a cidade de onde nunca saiu; de ter pedido discretamente un "nieve" ("no te entiendo, Terezita. Qué dijiste?" Resposta: "Ya estás borracha?"); de ter dado um beijinho em cada um; de ter tirado foto com a máquina de cada um (leva jeito!); enfim, depois de muita conversa!

É o tipo de momento que não se descreve com facilidade. Teresita é Teresita.

Prefiro olhar pelo buraquinho! Dá licença?

Momento de concentração ("No me mueva!")

Quando pedimos a ela para escrever seu nome no papel, Teresa pede, com astúcia, aquela nota do meu país que tinha acabado de guardar. De repente, começa a tentar imitar as letrinhas (dez reais) com a nota de cabeça pra baixo. "Peraí... Te ayudamos, Teresita. Te ayudamos". Tierna! Te devo um sorvete, linda!



domingo, 4 de julho de 2010

The Mexicans


Minha definição de mexicano é com certeza limitada. Em 2008, quanto tive contato com muitos nos Estados Unidos, constatei o óbvio: a maioria na cozinha de restaurantes — tanto nos chiques, de cardápio refinado e variado, quanto nos especialistas em tacos e burritos (a fast-food mexicana na concepção do Tio Sam). Vi que alguns são, sim, proprietários. Mas a maioria esmagadora é, de longe, a mão de obra que lava a louça e faz a comida.

Como qualquer imigrante nos Estados Unidos, mexicanos sofrem com o preconceito. Admiro muito quem suporta ser imigrante de país subdesenvolvido ou em desenvolvimento na sonhada "América". Tem que ter muito peito. A receptividade dos "americanos", principalmente em relação a quem chega para trabalhar, é claramente desconfiada, duvidosa.

E acho que vai ser assim por um bom tempo. E vai ser sempre pior para os mexicanos (espero estar equivocada). É que, mesmo não estando em seu melhor momento econômico, os Estados Unidos continuam a ser a melhor alternativa financeira para muitos deles. Claro. Quem é que não quer ganhar o salário em dólares e gastá-lo em seu país? Só os europeus, né?

Então, as notícias que continuam a ser publicadas são as do tipo "preso grupo de mexicanos que tentava cruzar a fronteira", "família tenta cruzar a fronteira por sistema de esgoto que conecta Tijuana a San Diego" (essa eu vi pela TV), "corpo de mexicana é encontrado a xkm da fronteira" e por aí vai. É triste.

Mais triste ainda é cruzar a fronteira e ver com os próprios olhos as diferenças que apenas uma cerca separa. Em menos de cinco minutos, indo de San Diego para Tijuana, é possível ver (nesta ordem): ruas asfaltadas e limpas, rodovia de primeira, carros modernos, palmeiras maravilhosas, sinalização adequada, fronteira (a placa México e algumas câmeras — qualquer um entra, sem lenço ou documento! Mas vai voltar...!), muros pichados, favelas, ruas esburacadas, carros caindo aos pedaços, camelôs, buzinaço e tudo mais que contrasta com o vizinho do "primeiro mundo".

Para ter uma pequena noção (pequena mesmo, porque não achei as fotos da fronteira), segue a foto de um outlet que fica exatamente na divisa de Tijuana e San Diego. Um metrô (trolley) conecta as duas cidades. Muitos vivem em TJ e trabalham legalmente em SD.

Detrás da cerca, Tijuana

E muitos vivem e trabalham nos EUA ilegalmente, claro. Assim funciona. E do que seria a terra do Tio Sam sem os ilegais? Como seria a day without a mexican?

(Os próximos posts serão dedicados exclusivamente aos mexicanos. Durante viagem ao México, seguramente terei outras impressões e conhecerei muitos que estão longe das cozinhas e do quintal dos EUA. Aqui, espero registrar várias figuras e uma visão mais completa dessa terra, que um dia já foi dona do Texas, da Califórnia, do Novo México, de Utah, Arizona e oeste do Colorado!)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A figura letã em imagens

Para quem ficou com curiosidade de conhecer a Kristine, seguem algumas fotos belíssimas (tiradas por alguns amigos). E, para quem quer saber o que ela achou dos post, um trechinho de um e-mail: OMG, you made my day. Your blog was the first thing I read while I was drinking my morning tea in my brand new 0,7 l cup. :D That was so funny to read about myself from someones point of view. I couldn`t understand only few things but my friend Google Translator helped me. :) (...) About blog, I think I got inspired from yours so maybe I`ll start to write something.






quarta-feira, 9 de junho de 2010

Kristine: uma letã no Brasil


"What´s the difference between claro, certo e com certeza?" "Today a saw a man riding a horse at Cristiano Machado." "There is only one person in every car I see." "Is there any plaza around here where I can just lay down to read a book?" Before the answers: can I laugh, Kristine? Rs, rs!

Normais para nós, tais fatos, no começo, causaram estranhamento em Kristine Apine, uma simpática letã que veio parar em Belo Horizonte em setembro de 2009. Isso mesmo: letã, aquela que nasce na Letônia, país ex-membro da união soviética — perto da Estônia e da Lituânia, you know? Não, né? Ok, então let´s Google it! No mapa: Latvia e sua capital, Riga. (Em praticamente todas as vezes que se apresenta, a reação das pessoas é de "onde fica isso?")


Exibir mapa ampliado

Pois é. Casada com brasileiro (meu brālis, no caso), ela agora se acostuma ao jeitinho e manhas do nosso país. Neste momento, precisamente, em Vitória/ES, lugar que “seems to be safer than BH”, segundo ela em primeiro e-mail após a mudança. “We walk a lot. There is no need of using car. There is a place close to the beach where I can walk alone even late.”

À primeira vista, ela não é assim tão exótica, como muitos podem pensar ser uma letã. Talvez eu já tenha me acostumado, claro. Se bem que acho que uma segunda olhadela já faz pensar: essa pessoa não é daqui.

É vaidosa à sua maneira. Ao contrário das brasileiras, não se preocupa excessivamente com a imagem, roupas, acesórios, salão... Pelo que sei, ela mesma corta seu cabelo e confecciona as pulseiras que usa. A aliança de prata está no colar, por conta do trabalho de mergulhadora que desempenhou com o marido numa ilha da Grécia. (Para não correrem o risco de perdê-la, preferiram não colocar na mão. Compõe o estilo meio hippie.)

Além de letão, fala russo, inglês e tem noções de polonês, finlandês (já foi babá de finlandesa) e, imagino eu, de grego e espanhol. O português também já está encaminhado. Pelo menos a gramática foi comprada! Em breve, deve frequentar um curso. Afinal, não tem nada a ver com português essa língua que prolonga algumas vogais! Não se diz Kristine, por exemplo. Se diz Kristiiiiiiine, porque o i leva um acento que nem sei achar no nosso teclado.

Aquela coisa de "com o tempo pega" pode funcionar com inglês e espanhol, mas com português, sendo letã...ah, duvido! Para ter noção, a dedicatória que ela escreveu em um livro que me deu de presente: "Daudz laimes. Dzisanas diena! Velan visu to labako!" (Com circunflexo ao contrário em algumas letras e um tracinho em cima de algumas vogais!) Esqueci de anotar o significado, mas deve ser algo semelhante a parabéns, feliz aniversário ou muitas realizações!

Desde que chegou, alguns fatos chamaram sua atenção:
- Segundo dia no Brasil: óculos escuros furtados! Ao voltar à loja onde havia experimentado roupa e esquecido os óculos, cadê? Já era. Tudo bem que não era de grife (ela não é dessas). Mas tinha um grande carinho por eles.
- No quesito mulheres: "É impressionante como todas as brasileiras têm bunda."
- No quesito comunicação: "Quase todos entendem inglês, mas por que não se aventuram a falar?"
- Nos primeiros meses: "Nunca estive em um lugar no qual chovesse tanto!" (De molho, em casa, por vários dias, tadinha.)
- No bar onde trabalhou como garçonete, o cliente, estressado, pergunta pelo chope "daquele jeito". Resposta: "Calma, relaxa a cabeça (c/ sotaque, óbvio)".

Aos poucos, ela conta curiosidades sobre a Letônia, país de apenas 2 milhões de habitantes. Para mim, o Dia do Nome é uma das particularidades mais engraçadas. No calendário letão, há dias que homenageiam os nomes próprios das pessoas. Algum dia de fevereiro, se não me engano, foi o dia do nome Ilona (como se chama uma de suas amigas). E rola comemoração como se fosse aniversário. Todas as Ilonas da Letônia celebraram esse dia, inclusive ela e a amiga, que também está no Brasil. Só não sei se rolou presente.

Bom, fora o fato de que em sua certidão de nascimento o país registrado não existe mais (URSS), há muitas outras curiosidades que envolvem essa figura, que é também inteligente, engraçada e criativa. Acho que só conhecendo mesmo para ter noção.
Já falei para ela fazer um blog sobre os contrastes entre Brasil e Letônia. Até cheguei a criar um com ela: mushroomsandbananas.wordpress.com — o nome faz referência a alimentos que encontramos em abundância nos dois países. Mas ela ainda não começou a escrever.

Além desse, meu incentivo também vai para o auladerusso.wordpress.com. Lembra que criamos, Kristine? Esse é bom para você vender seu peixe. Aposto que é a única letã em Vitória! Vai fazer sucesso e abrir uma escola, hein?! Tô sentindo.

Só não arrisco a dizer que você é a única letã do Brasil porque a Ilona está aqui, né? Rs! Será que há mais letões (ou letoneses, como diz a galera) em terras brasileiras? De qualquer maneira, um futuro verde e amarelo te espera, garota. You know we looove foreigners here!

Ps: posso colocar aquelas suas fotos artísticas aqui? If you didn´t understand a word, tell me, okay? Haha! I can translate it.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Cadê?

Respondendo a alguns queridos amigos:
Não é que me esteja faltando inspiração para encontrar figuras. Com uma certa frequência, elas aparecem. Mas é que o tempo anda apertando minhas ideias mesmo. E aquele ímpeto de conhecer gente diferente está --e muito-- ligado à estrada.
Necessidade: viajar.
Desejo: ganhar na megassena. Ahã.
Sei lá...
Logo, logo, alguma aparece.

Até.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O verdadeiro folião


Ele não dança nem curte "rebolation". Ele não dança que nem o Jacaré ou a Carla Perez (ou qualquer correspondente dos dias de hoje). Quando escuta "Parangolé", ele treme —de aflição. E tem a certeza de que o Rio é melhor que Salvador, sem ao menos ter passado um feriado pecaminoso na capital baiana.
Sua fantasia é de vovó, melindrosa, bailarina (o), Chaves ou até avatar. Gosta muito de serpentina e confete. Quando perguntado sobre o hit da folia de 2010, ele, talvez, responda:
- Váriash marchinhash, como "Quanto riso, oh, quanto alegria. Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão... Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval." (Dedinhos pra cima.)
O importante é seguir o bloco e, se der, bater palmas para o pôr do sol no Arpoador.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mulher afegã

Nunca conheci uma delas de verdade. Não tenho ideia se verei uma algum dia, ao vivo. Talvez. Mas já me sinto à vontade para declará-la notável: a mulher afegã. Principalmente aquela que assistiu à invasão soviética, sofreu com a perda de entes queridos, se submeteu à incrível rigidez talibã (sob a burca) e ainda sobreviveu para ver de perto a chegada dos Estados Unidos.

E isso tudo ao lado de uma presença masculina pesada. Daquelas que sufocam, tiram o brilho dos olhos e calam o grito. Conheci uma mulher mais ou menos assim lendo o livro Cidade do Sol (A Thousand Splendid Suns). Ela faz parte de uma ficção, é claro. Mas é tão real ao mesmo tempo... Na história, ela sofre, sofre muito. E não tem o final que esperamos, que aguardamos ansiosamente. Ela segue um caminho áspero, escuro, cheio de pedras. Aceita muito, mas não deixa de ser batalhadora -- assim como uma amiga querida que lhe surge no meio do nada, quando o coração parecia fadado ao vazio para toda a eternidade.

Se conto mais, estrago a surpresa. Não ousaria dizer que é o retrato da afegã. Quem sou eu para afirmar isso. Mas me parece que é o retrato da afegã naquele tempo. O pensamento que fica é: que "Mariams" sejam mais felizes e "Lailas" também. Vale a pena conhecê-la(s).